O Sol, a Lua e os homens que esqueciam
 
Numa terra distante, havia uma cidade, onde os habitantes sofriam de um mal estranho: não mais se lembravam do que antes sabiam.
Sua memória tinha ficado fraca, opaca, incapaz de lembrar os acontecimentos e os conhecimentos do passado; até os menorzinhos, os mais simples, não conseguiam deixar, em sua memória, sua marca. Também não podiam mais compreender as histórias contadas por seus antepassados.
Há muito tempo atrás, essas pessoas eram capazes de ler os segredos da Natureza; agora, apenas repetiam gestos mecânicos e vazios: agiam feito autômatos.
Um velho, que vivia retirado na floresta, permanecia intocado por este mal. Um dia pensou:
- Parece que o Sol está se pondo, mergulhando este mundo na escuridão do esquecimento. Porém, mesmo de noite, a lua reflete o brilho do sol.
Então, todo dia, ele escrevia, com o ouro do Sol na prata da Lua, um pouco do que ele sabia.
E a cada manhã, quando os habitantes encontravam, pendurados nas árvores e nos varais, em bandeiras de prata e ouro, pedacinhos de saber, sua memória um pouco acordava, voltava a vibrar: voltavam a viver.