Algumas considerações sobre saber e educação
 
É bom lembrar...
Como disse um curandeiro tradicional do Benin numa conversa com Jean-Marie Pelt, etnobotânico francês, "O saber existe bem antes dos livros... O saber existe em todo o universo... Nós [curandeiros tradicionais do Benin] temos acesso direto ao saber."
 
Essas afirmações encontram um paralelo na visão quântica do mundo: a informação é bem anterior aos livros. A informação existe em todo o universo. No silêncio, podemos ter acesso a informações relevantes, pela meditação e pela intuição apurada.
 
É interessante notar que informação, conhecimento, saber e sabedoria podem andar juntos ou separados.
 
Quando a busca de entendimento se dá a partir da relação exclusiva e superficial com o mundo material, tem-se o risco de uma apreensão dos fatos e eventos fragmentada e distorcida pela lente de pontos de vistas excludentes e impositivos.
 
Se essa busca se der pelo recurso a mundos invisíveis intermediários - externos ou internos -, o risco maior é de transviar-se em meio a uma complexidade de difícil apreensão.
 
Mas a busca de entendimento também pode se dar estabelecendo um contato direto com a essência das coisas, pela observação fenomenológica do mundo material, pela meditação e a intuição apurada. E isso está ao alcance de qualquer pessoa disposta a desenvolver essas práticas. No caso dos curandeiros do Benin, e de outras partes do mundo, é pelo uso de plantas psicotrópicas que se alcança a essência.
 
É somente pelo contato com a essência, cuja porta de acesso está dentro de cada um, que a sabedoria acompanhará a informação e o conhecimento.
 
Quando a educação se limite ao fornecimento de informações e à elaboração de conhecimentos, é até possível chegar a altos níveis de desenvolvimento e produção material e intelectual, mas perde-se o aspecto da sabedoria.
 
Portanto, se quisermos desenvolver nas crianças a sabedoria que, por se basear em valores universais e benéficos, cria condições da criança aprender a pensar e a agir de maneira sustentável, tornando-se um adulto consciente e responsável, a observação fenomenológica, a meditação e o desenvolvimento da intuição deveriam fazer parte do currículo de todas as escolas, desde os primeiros anos.
 
Enquanto não for possível dispor desse espaço no currículo escolar, ainda assim é possível buscar desenvolver, em todos os integrantes da escola, adultos e crianças, as qualidades do coração que Riane Eisler, no seu livro O Cálice e a Espada, qualifica de gilânicas. Trata-se dos valores favoráveis à vida, baseados na parceria entre homens e mulheres, entre seres humanos e natureza.