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Algumas plantas queridas
Quero simplesmente compartilhar aqui uma paixão antiga por algumas plantas, como a oliveira, a ora-pro-nóbis, a tanchagem e a urtiga, e uma mais recente, a moringa oleífera, e assim, quem sabe, fazer outros se apaixonarem por elas também, pesquisá-las e fazer uso delas. Na alimentação e na saúde Essas plantas apresentam um interesse notável para a alimentação e a saúde, como muitas de suas irmãs. Pessoalmente, gosto de usá-las, secas e reduzidas a pó, para enriquecer o pão que faço em casa. A Urtiga (Urtiga dióica) é uma "planta daninha" típica da Europa. No Brasil, pode ser encontrada cultivada ou subespontânea, principalmente no sul e sudeste. Seu contato provoca coceira e queimadura quando a planta é fresca. É um excelente alimento contra anemia, a falta de minerais e vitaminas, sendo revitalizante e tônica. Tem poder antioxidante e depurativo, entre outros efeitos benéficos. A fibra de seu caule pode ser usada na produção de cordas, panos e isolamento térmico, como sua antiga vizinha, o cânhamo (Canabis ruderalis). Na França, a associação Les Amis de l´Ortie escolheu a urtiga como símbolo da luta contra a mercantilização desenfreada, a padronização dos modos de pensar e de agir culturais e agroculturais, e a perda da liberdade de perpetuar, fazer uso e divulgar um patrimônio milenar de sementes e saberes tradicionais. A Oliveira, presente há mais de 10.000 anos na região do Mediterrâneo, chegou ao Brasil há muitos séculos, trazida por imigrantes europeus. No entanto, frente ao início de uma produção de oliveiras no Brasil, a família real ordenou o corte das árvores para proteger a produção de Portugal. Após a segunda Guerra Mundial, a plantação foi retomada, principalmente no sul de Minas Gerais, norte de São Paulo e no sul do Brasil. O azeite é um dos melhores óleos alimentares, mas o uso de suas folhas secas e reduzidas a pó ainda merece ser difundido pelas suas propriedades medicinais e alimentícias. A Ora-pro-nóbis é uma trepadeira que pertence à família das cactáceas, apesar de não parecer um cacto a não ser pelos espinhos. Existem três variedades, nativas no Brasil: uma trepadeira de flores brancas de coração alaranjado, uma arbustiva (até arbórea) de flores laranja, e uma arbustiva de flores rosa. Das três, come-se principalmente as folhas, particularmente ricas em proteínas, a ponto da ora-pro-nóbis ser chamada de "carne do pobre". A variedade de flor branca faz parte da culinária mineira tradicional e pode ser plantada em quintais e jardins mesmo na cidade (eu mesma tenho um pé maravilhoso no meu quintal!). As flores duram apenas uma manhã e seu perfume atrai uma grande variedade e quantidade de insetos, entre os quais as abelhas sem ferrão. Seu nome científico é Plantago e existe uma enorme quantidade de variedades pelo mundo. Entre as mais encontradas no Brasil estão o Plantago major, o Plantago australis (também língua-de-vaca), o Plantago lanceolata (ou tanchagem-sete-veias) e o Plantago ovata (ou psilium). São muito facilmente encontradas em jardins, pomares, beira de estradas. Parecem gostar da proximidade do ser humano. Suas muitas propriedades medicinais podem ser encontradas no livro Plantas Medicinais no Brasil e seus usos alimentícios no livro Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil. A Moringa Oleífera, também chamada de acácia branca, é uma das treze espécies do gênero moringa e é originária da Índia. É cultivada na África, América Central, América do Sul e Sudeste Asiático. Praticamente todas as partes da planta têm utilidade. Suas sementes têm a estranha capacidade de decantar a água e fornecem um óleo alimentar de alta qualidade nutricional e de valor cosmético. Suas folhas podem ser usadas na preparação de pratos cozidos, consumidas em pó ou ainda usadas para chás. Elas contêm mais de 92 nutrientes e 46 tipos de antioxidantes, além de 36 substâncias anti-inflamatórias e 18 aminoácidos, entre os quais os 9 aminoácidos que não são produzidos pelo corpo humano. Aliás, ela é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma das plantas mais úteis para a humanidade. Na agricultura O extrato fermentado de urtiga (purin d´ortie) é usado há séculos na França como adubo, muitas vezes em associação com extratos fermentados de cavalinha, confrei ou samambaia, pois cada uma dessas plantas acrescenta propriedades complementares ao preparado, como adubo, fungicida e inseticida. De fato, muitas plantas podem ser usadas na forma de extrato fermentado, trazendo autonomia ao agricultor e ao jardineiro no tratamento do solo e da saúde das plantas, evitando assim o uso de adubos químicos e agrotóxicos, tão prejudiciais à saúde. O preparo do extrato fermentado clássico consiste em picar a planta e deixá-la na água por alguns dias, mexendo diariamente. No fim do processo de fermentação o líquido é filtrado e usado, diluído, para regar a terra ou pulverizar as folhas. No site Les amis de l'ortie encontram-se receitas do fermentado de urtiga. No Brasil, encontrei fermentados de preparação mais complexa, envolvendo o uso de açúcar mascavo ou esterco de gado.
Link importantes com receitas e mais informações:
Livros: "Plantas Medicinais no Brasil", de Harri Lorenzi e F. J. Abreu Matos, para a urtiga, o plantago e a moringa; "Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil", de Valdely Ferreira Kinupp e Harri Lorenzi, para a ora-pro-nóbis, plantago e urtiga; "Oliveira - a árvore da vida - Estudo avançado sobre as folhas da oliveira na modulação da saúde", de Cosmo F. Pacetta, para a oliveira; Web sites: Les amis de l'ortie (em francês) Moringa news (em francês e em inglês) Exemplo de fermentados de plantas e açúcar mascavo Exemplo de fermentados de esterco e plantas (pdf) |