Revolução Industrial, Revolução Verde e Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC)
 
Até a chamada "Revolução Industrial", que teve início na Inglaterra em meados do século XVIII e se estendeu à Europa ocidental e à América do Norte, uma parte importante da população vivia no campo, conhecia as plantas, suas utilizações medicinais tradicionais e seu uso eventual como alimento, o que era útil principalmente em períodos de fome.
 
Nessa época, instalou-se um processo de êxodo rural às vezes incentivado pelo próprio governo do país, como foi o caso na Inglaterra com a Lei dos Cercamentos de Terras. Os pequenos proprietários perderam suas terras em favor de grandes proprietários, e os camponeses perderam o direito de usar terras que antes eram de uso comum a senhores e servos, herança de antiga relação medieval. A maioria deles foi então levada a migrar para as zonas urbanas onde aumentava o número de fábricas e a produção industrial.
 
No Brasil, o êxodo rural conheceu sua maior intensidade na segunda parte do século XX em paralelo com os efeitos da chamada "Revolução Verde", mais precisamente entre 1960 e 1980.
 
A "Revolução Verde" foi caracteriza por uma drástica concentração fundiária, pela mecanização da agricultura, o emprego de sementes geneticamente modificadas e de grandes quantidades de insumos industriais (fertilizantes químicos e agrotóxicos), e a produção em massa de produtos homogêneos. O objetivo oficial dessa modernização da agricultura era alcançar um aumento da produtividade agrícola capaz de resolver o problema da fome no mundo.
 
No entanto, além de não resolver o problema da fome, a "Revolução Verde" aumentou a concentração fundiária, tornou os produtores dependentes das sementes modificadas produzidas por indústrias químicas multinacionais, e gerou problemas de saúde para os trabalhadores rurais e os consumidores. Teve, e continua tendo, efeitos dramáticos sobre o meio ambiente, com o desmatamento maciço, a contaminação do solo e das águas.
 
Outro efeito da "Revolução Verde" foi alterar de maneira significativa a cultura dos pequenos agricultores remanescentes, levando-os a desvalorizar seus conhecimentos ancestrais. Quanto às populações que migraram para a periferia das grandes cidades, o esquecimento devido à perda de contato com a natureza veio se somar à mudança de valores. As novas gerações só conhecem os produtos industrializados encontrados nas prateleiras dos supermercados e das farmácias.
 
Nesse contexto, as iniciativas que visam divulgar o uso de plantas que deixaram de ser consideradas alimento são de grande importância.