Livros de pano
 
Varias culturas transmitiram seus conhecimentos oralmente. Entendo esse fato como uma opção entre várias possíveis e certamente não como o resultado de uma capacidade intelectual reduzida. Impossível dizer que aos esquimós, índios americanos, africanos ou celtas, faltava inteligência. Deram provas suficientes de conhecimentos profundos da natureza ou da astronomia, por exemplo, e sem dúvida merecem nossa admiração e nosso respeito. Com o surgimento das escritas muito se ganhou, e muito se perdeu. O cérebro e o corpo deram lugar à cera, à madeira, à pedra ou ao papel que se tornaram então os guardiões dos conhecimentos. E agora o papel está, por sua vez, cedendo o passo à expressão virtual.
 
Eu gosto de substituir o papel por panos escuros, às vezes tratados com uma emulsão fotográfica carregada de prata, onde o texto é escrito à mão, em dourado. Há, nessa escolha, duas intenções: reencontrar um espaço simbólico associado a um tempo lento, espaço mágico afastado do espaço-tempo do consumo acelerado dos dias atuais, e associar ao "ouro" e à "prata" dois de seus conteúdos simbólicos: o conhecimento e a memória como suporte do conhecimento.