Amadou Hampâté Bâ - A tradição oral em perigo.
 
"Na África, cada ancião que morre é uma biblioteca que queima". Esta é provavelmente a frase mais famosa de Amadou Hampâté Bâ que tanto se empenhou em preservar a tradição oral africana.
 
Ele começa sua autobiografia, Amkoullel, o menino fula, explicando como funciona a memória numa cultura oral, pelo menos entre os anciãos, antes da cultura moderna mudar as regras do jogo. As crianças aprendiam a observar, a olhar e a escutar com tamanha atenção que sua memória gravava os acontecimentos com todos os detalhes. Esses registros podiam ser consultados ulteriormente, como se consultaria a película de um filme. Alguns membros de sociedades africanas memorizavam a totalidade dos conhecimentos do seu grupo, de sua etnia, e chegavam a falar sete ou oito línguas diferentes, aprendidas em suas viagens.
Hoje, a tradição oral está em perigo em vários lugares do mundo. A cultura moderna que tomou conta do globo valoriza antes de tudo a escrita, o consumo rápido da informação, a quantidade de informações mais que sua qualidade. A qualidade da escrita é, ela própria, minada pelo uso dos novos recursos de comunicação. É interessante lembrar que um sábio africano que falava oito línguas era considerado analfabeto pelos colonizadores europeus.
 
Lamenta-se, com razão, a destruição de obras arquitetônicas por vândalos de mente tacanha; a destruição da biblioteca de Alexandria provoca ainda hoje indignação, mas pouco se lembra das vastidões impalpáveis engolidas pelo esquecimento.