CRIIGEN - Comitê de Pesquisa e de Informação Independentes sobre a Engenharia Genética
COVID-19
As Tecnologias Vacinais sob a lupa
Christian Vélot
Geneticista Molecular
Universidade Paris-Saclay - França

 
Minhas palavras não visam em absoluto alimentar qualquer debate pró ou anti-vacina. Elas têm uma vocação estritamente pedagógica e visam levantar alguns questionamentos e analisar, da maneira mais objetiva possível, os riscos potenciais ligados à nova geração de vacinas para lutar contra o Covid-19.
 
Eu não tenho absolutamente nenhum desacordo de princípio com a vacinação, eu fui vacinado contra várias doenças, e me classifico simplesmente como "vacino-prudente".
 
Devemos ser particularmente prudentes com as vacinas por que uma vacina não é um medicamento como outro qualquer. Como um medicamento é destinado a pessoas doentes, estamos prontos a aceitar certo número de efeitos colaterais. É a questão da relação risco/benefício. Mas como a vacina é destinada a pessoas saudáveis, que nós nos encontramos numa atitude de prevenção, não queremos que a vacina nos deixe doentes. Com a vacina estamos próximos do contexto do alimento. Não queremos adoecer ao comer um alimento, portanto, temos inevitavelmente uma exigência de segurança sanitária do alimento que é muito mais rigoroso que a do medicamento. E a vacina fica nessa interface, medicamento/alimento.
 
Há outra particularidade importante: é o número de pessoas que são envolvidas na vacinação, em relação ao número de pessoas envolvidas num tratamento destinado a lutar contra uma doença específica.
 
Antes de falar da vacina contra o Covid-19 vamos lembrar o que é um vírus. Um vírus é uma casca de proteínas chamada capsídeo, que contém o material genético do vírus. Uma casca proteínica contendo o material genético do vírus é o que é chamado de "vírus nus". "Vírus nus", em oposição a "vírus envelopados". Um vírus envelopado é a mesma coisa, mas além do capsídeo que contém o material genético há, em volta, um envelope que é uma bi-camada lipídica na qual estão inseridos vários exemplares de uma proteína chamada proteína de superfície. No caso dos coronavírus, e em particular do coronavírus "SARS-Cov2", responsável pelo Covid-19, essa proteína de superfície é chamada proteína "Spike". Essa proteína de superfície é implantada no envelope, na bi-camada lipídica, de tal maneira que dá um aspecto de coroa, por isso o nome de "coronavírus". A proteína Spike permite a ancoragem do vírus na superfície das células que vão ser infectadas por ele, para que, em seguida, ele possa penetrar nas células e nelas liberar seu material genético.
 
O que é o material genético? Para nós, humanos, nosso material genético é o DNA. No DNA há o que chamamos de genes e alguns desses genes detêm o segredo de fabricação das proteínas. As proteínas são grandes moléculas que são como que os atores de todos os processos biológicos que ocorrem nas nossas células. Porém, não dá para passar diretamente do gene à proteína. O gene, o DNA, deve ser primeiro convertido numa molécula chamada RNA, que será um intermediário, um mensageiro entre o DNA e a proteína, por isso o nome de "RNA mensageiro" do qual ouvimos falar muito ultimamente a respeito de certas vacinas contra o Covid-19. Portanto, há conversão da linguagem genética contida no DNA para uma linguagem genética, a mesma, mas agora contida numa molécula de RNA. Esse processo de conversão do DNA em RNA é chamado de "transcrição". Em seguida, o RNA é decodificado para poder fabricar uma proteína, passando da linguagem genética contida no RNA para uma linguagem protéica, e isso é chamado de "tradução".
 
No caso de um vírus cujo material genético é DNA, o vírus injeta seu material genético na célula que ele infecta. A célula toma para si esse material genético, transcreve o DNA do vírus em RNA, e depois traduz o RNA em proteínas virais. Essas proteínas virais formam novos capsídeos que aprisionam o material genético viral e assim as partículas virais vão se multiplicar, vão deixar a célula para ir infectar outras células e depois outros indivíduos, etc.
 
O vírus depende efetivamente da colaboração da célula porque ele não é autônomo, ele não tem a capacidade de fabricar sozinho suas próprias proteínas.
 
Também existem vírus cujo material genético não é DNA, mas diretamente RNA, ou seja, diretamente o intermediário. Este é o caso dos coronavírus. Aqui, o vírus injeta seu RNA que é diretamente traduzido pela célula infectada em proteínas virais que vão permitir a formação de novas partículas virais, etc.
 
SARS-Cov2 é um vírus RNA. O capsídeo contendo o RNA viral é envelopado por uma bi-camada lipídica, na superfície da qual encontramos exemplares da proteína Spike que permitem a esse vírus ancorar-se nas células alvo e infectá-las, ou seja, injetar-lhes seu material genético, seu RNA, para que a célula o use e fabrique novas partículas virais.
 
Agora, o que é a vacina? De maneira geral, a vacina, se destina a treinar o nosso organismo a estimular nosso sistema imunológico, preparando-o para que esteja capaz de enfrentar o vírus quando este chegar verdadeiramente. A idéia é preparar nosso sistema imunológico para que ele disponha de uma bagagem de anticorpos especificamente dirigidos contra o agente infeccioso, seja ele um vírus, uma bactéria, ou outro. Algumas vacinas existem há muito tempo.
 
Quais são os diferentes tipos de vacinas que existem, classicamente?
Há vacinas que consistem em injetar o vírus inteiro. E para que ele não provoque a doença ele é inativado ou atenuado. No caso de um vírus inativado, fala-se em "vacinas inativadas". E no caso de um vírus atenuado, fala-se em "vacinas vivas".
 
O vírus pode ser inativado por um tratamento químico, em geral formol, ou por um tratamento físico, freqüentemente radiações, principalmente ultravioletas. Ele continua com a mesma cara, portanto continua capaz de imunizar. Quando injetado, ele é reconhecido por nosso organismo como sendo um corpo estranho e o nosso organismo começa a se preparar fabricando anticorpos, sem provocar a doença. O inconveniente desses "vírus inativados" é que, em geral, eles são relativamente pouco imunogênicos, portanto, é necessário potencializar seu efeito imunogênico. Isso se faz de duas maneiras: com a adição de coadjuvantes, como por exemplo sais de alumínio, formaldeído - que não são exatamente moléculas simpáticas -, e aplicando doses repetidas.
 
Existem vacinas atenuadas. É ainda o vírus inteiro. Ele não está morto, não está inativado, ele foi tornado um pouco inoperante. Pode ser uma cepa mutante do vírus que ficou naturalmente termossensível e, portanto, não é mais capaz de se multiplicar na temperatura de nosso corpo, a 37 graus.
Também pode ser uma cepa do vírus que foi tornada termossensível por certos processos em laboratório. Essas vacinas têm a vantagem de serem mais imunogênicas que as vacinas inativadas, mas têm o inconveniente de representar uma parte muito maior de risco, simplesmente porque o vírus não está morto. No caso de pessoas frágeis, pessoas imunodeprimidas, mulheres grávidas, esse tipo de vacina é, portanto, desaconselhado. Esses são os dois grandes tipos de vacinas mais antigas.
 
Há outras vacinas mais recentes, mas que já foram usadas antes do Covid-19. São vacinas chamadas de "proteínas recombinantes". As proteínas recombinantes são proteínas que são fabricadas em células outras que aquelas que as fabricam na vida real. Em vez de injetar o vírus inteiro, injeta-se uma proteína do vírus, em particular a proteína de superfície quando se trata de um vírus envelopado. Isso permite desencadear a produção de anticorpos porque, de fato, quando um vírus envelopado ataca, a proteína visível de fora é a proteína de superfície, ela é imunogênica. Então, ao injetarmos apenas essa proteína, não se corre o risco de provocar a doença, já que não foi introduzido o vírus inteiro, atenuado, e o sistema imunológico vai ser devidamente estimulado. É o que foi feito, por exemplo, com a vacina contra a hepatite B.
 
Foi feito também, de outro jeito, usando a proteína do capsídeo em vez da proteína de superfície, como no caso do Papiloma vírus que é um vírus nu, responsável pelo câncer do colo do útero. Nesse caso, é proteína do capsídeo que é produzida.
 
Voltando ao caso do vírus de Hepatite B. Ele é um vírus DNA envelopado, portanto há proteína de superfície. O princípio consiste em produzir em laboratório a proteína de superfície do vírus. Busca-se, no material genético do vírus, o gene que detém o segredo de fabricação da proteína de superfície. Busca-se uma maneira desse gene se expressar corretamente em células que podem ser multiplicadas em grande escala em laboratório, como bactérias, leveduras, células de plantas ou de animais. Essas células vão decodificar o gene do vírus e então fabricar a proteína viral, que é chamada de proteína recombinante. Essa proteína recombinante é extraída das células que a produziram, purificada, recebe eventualmente alguns adjuvantes, e pode ser injetada. Ela é agora uma proteína vacinante.
 
São essas as vacinas que existem até o momento: vacinas inativadas, vacinas atenuadas e vacinas de proteínas recombinantes, sejam elas proteínas de superfície ou proteína de capsídeo.
 
No caso do Covid-19, há um número muito grande de vacinas na corrida. Entre 230 ou 250 candidatos-vacinas uns 20, na Europa, estão para serem entregues, comercializados, postos no mercado, entre fim de 2020 e no decorrer de 2021.
 
Algumas são vacinas inativadas. É o caso, por exemplo, das vacinas chinesas como as da Sinopharm [e a CoronaVac, da SinoVac, no Brasil]. Essas duas vacinas chinesas estão autorizadas desde julho de 2020, sendo que os testes clínicos de fase III, que é o último estágio dos ensaios clínicos, começaram em julho de 2020. Mas são vacinas que se apóiam numa tecnologia já usada antes, com os inconvenientes dos quais já falamos: como elas são pouco imunogênicas, são necessárias injeções repetidas, e elas contêm adjuvantes, como o alumínio.
 
Há também candidatos-vacinas de proteínas recombinantes. É por exemplo o projeto desenvolvido por Novavax [empresa sueco-americana que usa as saponinas de uma árvore chilena, a quilaia, como coadjuvante]. É também o caso da empresa canadense "Medicago" que, ela, aposta na proteína do capsídeo. É um capsídeo vazio, produzido em células vegetais transgênicas em laboratório. Há também um projeto de Sanofi-Pasteur sobre esse tipo de vacinas de proteínas recombinantes.
 
Todas estas vacinas já eram conhecidas e haviam sido utilizadas para outras doenças anteriormente.
 
Há uma nova geração de vacinas que chega no caso da Covid-19. São as chamadas vacinas genéticas. As vacinas genéticas consistem em injetar nas células da pessoa a vacinar, não o vírus inteiro, não uma proteína do vírus, mas a parte do material genético do vírus que detém o segredo de fabricação da proteína imunogênica, por exemplo, a proteína Spike. A idéia é de levar diretamente as células da pessoa a vacinar a produzir essa proteína.
 
O material genético dessas vacinas genéticas, pode ser RNA, já que o vírus SARS-Cov2 é um vírus RNA: um pedaço do RNA viral. São as famosas vacinas de RNA mensageiro das quais se ouve muito falar já que são as primeiras que chegaram no mercado, em particular a vacina da Pfizer-BioNTech (uma empresa americana, Pfizer, e uma empresa alemã, BioNTech) e que já está sendo utilizada na Inglaterra há alguns dias. Há também vacinas de DNA. Mas o material genético que se busca introduzir nas células, seja ele RNA ou DNA, não pode penetrar nelas sozinho. É preciso um veículo chamado vetor. No caso do RNA, esse vetor é uma minúscula cápsula de gordura, chamada nanopartícula. O nanômetro é um bilionésimo de metro. Uma nanopartícula é uma partícula cujo tamanho é da ordem do nanômetro, do bilionésimo de metro. Como nossas próprias células são limitadas por uma bi-camada lipídica, a membrana plasmática, as nanopartículas injetadas penetram com facilidade nas células onde liberam seu conteúdo: a parte do material genético de SARS-Cov2 que detém o segredo de fabricação da proteína Spike. As células decodificam o RNA viral e fabricam a proteína Spike. Essas vacinas de RNA mensageiro são as produzidas por Pfizer-BioNTech e por Moderna.
 
Existem outras vacinas genéticas que são vacinas de DNA. Aqui o vetor não é uma nano partícula de gordura e sim um vírus, outro que o coronavírus, obviamente. É a capacidade que um vírus tem de injetar nas células seu material genético que é aproveitado. Assim, as vacinas desenvolvidas principalmente por AstraZeneca e também Spoutnik, do Instituto Gamaleya na Rússia, utilizam como vetor um vírus recombinante um adenovírus, responsável normalmente pelo que chamamos de estado gripal. É um vírus que não é muito perigoso e que, além disso, foi desarmado, ou seja, tornado inoperante. Isso é feito eliminando uma parte de seu material genético responsável por sua virulência. E essa parte do material genético que foi eliminada é substituída por uma parte do material genético de SARS-Cov2 que detém o segredo de fabricação da proteína Spike. Isso quer dizer que esse adenovírus vai agora liberar em nossas células material genético híbrido, junção de parte do seu próprio material genético com uma parte do material genético de SARS-Cov2.
Isto se chama vírus recombinante.
Temos aqui um pequeno problema já que o adenovírus é um vírus de DNA e o SARS-Cov2 é um vírus de RNA e que é impossível inserir RNA dentro de DNA bem com DNA em RNA. Portanto, o RNA do SARS-Cov2 deve ser convertido em DNA. Nas células, o processo de transcrição permite naturalmente passar do DNA ao RNA. Para tornar possível a passagem inversa, do RNA ao DNA é necessário usar uma enzima viral. Por exemplo, tipicamente o vírus da AIDS é um vírus RNA que, no seu ciclo de desenvolvimento necessita converter seu RNA em DNA. Em seguida, esse DNA é transcrito e depois traduzido em proteínas virais. De fato, existe no vírus do HIV, e não somente nele mas também em outros vírus chamados Retrovírus, uma enzima chamada Transcriptase reversa, pois ela faz o inverso de uma transcrição, ou seja, ela converte o RNA em DNA. No caso do SARS-Cov2, isso é feito em laboratório, pode ser feito num tubo de ensaio, e recuperamos a versão DNA de SARS-Cov2, que não existe na vida real. Desse DNA viral é recuperada a porção que detém o segredo de fabricação da proteína Spike e é inserida no DNA do vírus, do adenovírus.
Tendo obtido esse DNA recombinante, nossas células vão transcrevê-lo em RNA e depois traduzir este em proteína Spike.
 
São esses os dois tipos de vacinas genéticas: vacina RNA com uma nanopartícula de gordura como vetor, e vacina de DNA com um adenovírus como vetor recombinante.
 
Isso posto, quais são os questionamentos novos e os riscos novos potenciais que eles generam? Essas vacinas genéticas não foram praticamente utilizadas até hoje e estão sendo propostas contra a Covid-19 por algumas indústrias farmaceuticas.
 
Primeiro, vejamos o caso das vacinas DNA, tipo AstraZeneca e Spoutnik.
Essas vacinas DNA que utilizam um vetor viral, recombinante, um adenovírus. É um DNA viral que vai ser injetado nas nossas células e DNA pode se integrar em DNA. Portanto, temos riscos de integração do DNA da vacina nos nossos próprios cromossomos. O problema, é que não controlamos em absoluto o lugar onde ele pode se inserir. E já temos algumas experiências infelizes com isso, pois ensaios clínicos já foram feitos em terapia genética. O objetivo era introduzir nas células de uma criança doente, por exemplo uma criança que tem um gene danificado que a deixa muito doente, a versão normal desse gene, ou seja, um gene reparador. Tratava-se de um gene humano introduzido em células humanas, portanto não era DNA mensageiro e a integração era efetivamente buscada. Essa vontade não está presente no caso da vacina, mas pode acontecer. O problema é que mesmo quando se quer a integração, como na terapia genética, não há controle sobre o lugar aonde o gene vai se integrar. Houve um ensaio de terapia genética realizado com 10 crianças onde 2 dessas 10 crianças tiveram problemas graves porque o DNA reparador foi se inserir num lugar... infeliz, no caso foi se inserir em oncogenes e essas crianças desenvolveram leucemias. Esse ensaio de terapia genética realizado em 2002 foi relatado numa publicação de 2003.
O vetor utilizado nesse ensaio clinico foi um adenovírus recombinante, como no contexto dos candidatos vacinas da AstraZeneca ou de Spoutnik, a vacina russa. Isso se chama mutagênese de inserção.
 
No caso de uma vacina, é DNA estrangeiro que pode se inserir e, portanto, esse risco deve ser levado em conta, evidentemente. Duas crianças com problema grave em 10, já é muito. E aqui não serão vacinadas 10 pessoas, mas milhões, centenas de milhões, até bilhões de pessoas. Portanto, não se pode subestimar esse risco.
 
Há outro risco potencial diretamente ligado às vacinas que usam um vírus como vetor, como o adenovírus por exemplo. Um vírus é estrangeiro ao nosso corpo portanto não é inocente no tocante a nosso sistema imunitário. Ele pode desencadear reações imunitárias inoportunas.
 
E sobre isso, também houveram alguns ensaios clínicos de terapia genética e de imunoterapia. A imunoterapia é uma estratégia utilizada para lutar contra certos cânceres, onde o objetivo é tentar provocar no paciente com câncer anticorpos que vão reconhecer especificamente as células cancerosas para eliminá-las. Especificamente as células cancerosas, e não as outras. E isso implica também a introdução de material genético que utilize como vetor vírus recombinantes tais como os adenovírus.
Na Belgica, alguns ensaios de imunoterapia levaram a uma imunotoxicidade, ou seja, a respostas imunitárias indesejadas, indo da doença auto-imune a uma resposta inflamatória fatal. No caso de um ensaio de terapia genética com 18 pessoas, 1 dessas 18 pessoas, por causa do vírus, teve uma resposta inflamatória sistêmica fatal que a levou à morte. Portanto, 1 pessoa em 18. Lembrando que serão vacinadas enormes quantidades de pessoas.
 
Há um risco que é comum às vacinas de RNA e de DNA, portanto às vacinas de Pfizer, BioNTech e Moderna, mas também de AstraZeneca, ou Spoutnik. Ocorre que os vírus adoram trocar material genético entre si.
Que fique claro: só pode acontecer entre vírus de mesma natureza, DNA com DNA, RNA com RNA. Mas sendo de mesma natureza, eles podem trocar pedaços do seu material genético um com o outro. Isto se chama "recombinação". Não é específico dos vírus, mas é particularmente exacerbado entre eles. E mais ainda quando se trata de vírus que se parecem, ou seja, da mesma família. Não quer dizer que não possa acontecer entre vírus mais distantes, desde que sejam da mesma natureza, mas é menos freqüente.
Assim, podem aparecer vírus recombinantes e esses vírus recombinantes, em geral, dão medo. Porque, podem ser menos virulentos que os vírus parentais, mas também podem ser muito mais virulentos.
E isso é sempre preocupante porque nunca se sabe para que lado vai evoluir.
Um vírus recombinante, do qual ouvimos falar não há muito tempo é o vírus H1N1. O vírus H1N1 é de fato um triplo recombinante, já que é um recombinante de uma cepa da gripe aviária, da gripe suína e da gripe humana. Felizmente, ele desapareceu logo e é uma sorte.
 
Agora, evidentemente, para que isso aconteça, é preciso que uma célula seja infectada por dois vírus ao mesmo tempo, o que é, felizmente para nós, extremamente pouco provável. Só que, a partir do momento em que se introduz material genético viral de propósito nas células, por exemplo, com finalidade de vacinação - as vacinas genéticas -, basta que estas mesmas células sejam infectadas por outro vírus de mesma natureza, no mesmo momento, para que esses eventos possam ocorrer. E é verdade que é uma probabilidade extremamente fraca.
Vamos considerar uma ocorrência fraca de recombinação de 10 potência -7 ou -8, quer dizer 1 pessoa em 10 milhões, 1 pessoa em 100 milhões.
Só que o risco não deve mais ser considerado na escala do indivíduo, mas na escala da população e, infelizmente, essa questão do risco na escala da população não é nunca, nunca levantada!
Serão vacinadas centenas de milhões de pessoas, até bilhões de pessoas, E portanto a probabilidade que aconteça uma recombinação não é nula. E mesmo as conseqüências sendo extremamente fracas, elas não serão apenas para a pessoa na qual emerge esse vírus recombinante. Esse vírus recombinante, se for virulento, ele vai se multiplicar, e infectar outros indivíduos, e não esqueçamos que basta um vírus surgir em algum lugar para que as conseqüências sejam colossais e mundiais.
 
O que o SARS-Cov2 nos ensinou é que basta um vírus emergir um dia em algum lugar, para que as consequenciais sejam colossais e mundiais! Portanto, esse risco coloca verdadeiramente a questão da tomada desse risco.
 
Além disso, por mais que fizéssemos verdadeiros testes clínicos de fase III, como se deve, ou seja, ao longo de vários anos, com enormes números de participantes, nunca teremos o número de participantes suficiente para avaliar esse risco. E isso, portanto, coloca a questão da estratégia vacinal. Quer dizer: será que não deveríamos lançar mão de uma tecnologia vacina, para a qual já temos certo recuo? E desse ponto de vista, pode ser que os Chineses, por mais apressados que tenham sido, pelo menos se baseiam numa tecnologia que já foi amplamente utilizada.
 
Temos um novo vírus, chamado SARS-Cov2, que tem nos reservado enormes surpresas, que é absolutamente incompreensível em certos aspectos. Num mesmo grupo as pessoas infectadas por uma mesma cepa podem ter sintomas muito diferentes. Portanto, deveríamos evitar acrescentar à incerteza e à imprevisibilidade de um vírus novo, a incerteza e a imprevisibilidade de uma tecnologia nova. Afinal existem outras tecnologias para as quais temos pelo menos um pouco mais de recuo.
 
Coloca-se também a questão das outras estratégias que não as estratégias vacinais, as estratégias terapêuticas, preventivas ou curativas. Há várias delas em desenvolvimento nos laboratórios, mas os Estados estão dando muito dinheiro a empresas farmacêuticas que desenvolvem projetos de vacinas e deixando de lado outros projetos que poderiam se revelar muito promissores.
 
Pessoas falam que a França está atrasada, porque a vacina francêsa vai chegar mais tarde que as outras vacinas. Mas não estamos numa competição esportiva! Não se trata de saber quem vai chegar em primeiro na linha, mas quem vai chegar nas boas condições. Trata-se de tentar lutar contra uma pandemia, e não se deve lutar de qualquer jeito porque o remédio não deve ser pior que o mal. Portanto, pode ser que seja necessário achar um jeito de coabitar um pouco mais com o vírus, sem sacrificar tudo, mas encontrando um compromisso, um meio termo, para se dar mais tempo e para ter uma verdadeira terapia?
 
A biossegurança, a confiabilidade, não são compatíveis com a urgência, que essa urgência seja de ordem política, sanitária, ou uma urgência financeira para todas as empresas que se lançaram na competição, na corrida para a vacina. Porque para elas, trata-se verdadeiramente de uma competição, mas não devemos cair nesse jogo da competição, devemos colocar em primeiro lugar a segurança. É isso.
 
Espero do fundo do meu coração que o futuro mostrará que eu estava errado. E espero não ouvir dizer: "O senhor tinha avisado e aconteceu". Existem riscos que precisam ser falados e que precisam ser levados em conta na hora certa. Obrigado. (Gravação feita na véspera das festas de Natal de 2020)
 

Fonte: https://criigen.org/covid-19-les-technologies-vaccinales-a-la-loupe-video/